Indústria brasileira de O&G evolui no reporte de emissões de CO₂
Em painel na COP30 nesta sexta-feira (14), representantes do setor apresentaram iniciativas de mensuração das emissões de GEE. Combinação de dados consolidados, modelagens e ferramentas de análise permite avaliar os desdobramentos das metas do Plano Clima e entender os impactos no setor
A indústria brasileira de Óleo e Gás (O&G) está produzindo um diagnóstico climático de escala inédita, estratégico para o país alcançar suas metas do Acordo de Paris. Essa foi a mensagem central do painel “Energia que se Mede é Energia que Evolui”, realizado pelo Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP), na Blue Zone da COP30. O encontro evidenciou a terceira edição do Inventário de Emissões do IBP, referente ao ano de 2023, que representa mais de 90% da produção nacional de petróleo e gás.
O Inventário Setorial é a ferramenta que permite ao setor sentar-se à mesa com outros segmentos da economia para negociar onde cada um pode reduzir emissões ao menor custo, para que o país alcance sua NDC (Nationally Determined Contribution).
Moderador do debate, Flávio Torres, gerente executivo de SMS e Operações do IBP, destacou que a consolidação dos dados cria uma cultura inédita de mensuração, fortalecendo a credibilidade. "É esse conjunto de dados que nos permite sentar à mesa e discutir onde cada um pode reduzir emissões para que o país alcance sua NDC,” afirmou.
Felipe Bittencourt, CEO da WayCarbon, consultoria que consolidou os dados do inventário, reforçou que o levantamento traz uma capacidade de projeção e planejamento que facilita o acesso a financiamentos e incentiva a colaboração entre empresas e setores. Segundo ele, a combinação de dados consolidados, modelagem climática e ferramentas de análise permite desdobrar a meta do Plano Clima e entender seu impacto direto no setor.
A superintentende adjunto da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Mariana França, apresentou os avanços regulatórios voltados à redução de emissões de metano. A Agência está, inclusive, avançando em um sistema nacional de NMRV (medição, monitoramento, reporte e verificação), incluindo protocolos, metodologias e programas de detecção e reparo de vazamentos. “Por mais que o setor de óleo e gás não seja o maior emissor de metano do Brasil, ele possui oportunidades de redução custo-efetivas, as chamadas low hanging fruit”, explicou.
Os representantes da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e da Petrobras concordaram que inventários auditados e transparentes são vitais para as empresas negociarem metas e acessarem financiamento. “A partir deste ano, o Brasil inicia efetivamente um orçamento de carbono. Isso vai exigir mobilização setorial imediata”, afirmou Rafaela Aloise de Freitas, analista de Políticas e Indústria e gerente de Clima e Energia da CNI, citando as metas da NDC para 2025, 2030 e 2035.
A especialista lembrou o avanço do Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões, cuja implementação regulatória está em curso. “Empresas com inventários auditados e estratégias de descarbonização têm recebido mais recursos, e isso vem crescendo exponencialmente”, afirmou a porta-voz da CNI.
“Nosso primeiro inventário foi publicado em 2002 e, desde então, avançamos em marcos importantes, como o reporte de Escopo 3 em 2010, o selo ouro do GHG Protocol e, mais recentemente, a transição para um inventário que pode ser tecnicamente classificado como razoável, algo extremamente desafiador”, disse Fernanda Diniz, gerente de Mudança Climática da Petrobras.
A executiva destacou que normas da CVM e IFRS S2 estão exigindo maior transparência e ampliação das fronteiras de reporte, incluindo inventários por participação equity. Segundo ela, a adesão da Petrobras ao OGMP e as campanhas de medição de metano têm corrigido estimativas superdimensionadas e aprimorado a gestão. “Conhecer profundamente as fontes de emissão é o primeiro passo para descarbonizar”, concluiu a executiva da Petrobras.
Flávio Torres encerrou o painel reforçando o papel do IBP na articulação com a NDC: “Para conseguir isso [Net Zero 2050], precisamos saber exatamente quanto emitimos e quanto podemos reduzir, trazendo maiores benefícios para a sociedade”.