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Segunda edição da RodaTech reúne especialistas em torno de apostas e desafios para empresas transformadoras e escaláveis

“Startups Unicórnio: Qual será a primeira do setor de O&G?” foi o tema da segunda edição do webinar RodaTech, que o Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP) promoveu nesta terça-feira (18.08) para discutir inovação, tecnologias disruptivas e escaláveis, num setor marcado por modelos mais tradicionais de gestão, processos de longa duração e ênfase em métricas como ROI. Nesse contexto, que empresas podem vencer o desafio de atingir a marca mágica de US$ 1 bilhão de valor de mercado?

Apresentado por Melissa Fernandez (Gerente de Tecnologia e Inovação do IBP) e Thaise Temoteo (Analista de Comissões e Gestão do Conhecimento do Instituto), o painel virtual teve como convidado especial Flávio Pripas, investidor na Redpoint eVentures. O executivo foi entrevistado por Patrícia Grabowsky (Head de Inovação da Subsea7), Victor Chaves, (Founder & CEO da RIO Analytics) e Tiara Bicalho, (Engenheira de Produção na Petrobras).

Como conciliar o processo criativo em busca de inovação típico das startups num ambiente mais institucional? Será que o setor de O&G tem espaço para unicórnios, qualificação que no ranking brasileiro já conta com Nubank e iFood, além de benchmarks internacionais como Uber e Spotify? Com essas questões, Melissa Fernandez e Thaise Temoteo puxaram a participação de Flávio Pripas, que entre outros projetos esteve à frente da Cubo, referência no país como incubadora de startups.

Para Pripas, quando se pensa relacionamento entre startups e corporações tradicionais, é preciso destacar o conceito de serendipidade (em inglês, serendipity), que vale para contatos e interações não planejadas entre empresas, fornecedores, criadores, e que podem gerar valor, negócios, projetos. “Isso é muito comum no Vale do Silício, por exemplo. A indústria tem que provocar oportunidades para que as pessoas troquem informações, pode ser até numa conferência virtual como esta. E a gente pode provocar esses hacks no dia-a-dia”, explicou.

Tiara Bicalho lembrou que estima-se em 13 mil o número de startups no Brasil hoje, muitas reunidas em bases e hubs, mas menos de 1% atuariam na área de energia, e essa representatividade seria ainda menor no core de óleo & gás. “Que elementos no ecossistema setorial poderiam alavancar essa participação?”, perguntou.

Nesse ponto, Flavio Pripas fez questão de dar sua definição sobre startups, que ele acredita serem entre mil e 2 mil no Brasil, por esse critério: “São empresas que resolvem um problema real, com uma solução do mundo real, e que essa solução tem potencial de escala. O que as define é o seu potencial de escala, e que o valor gerado é desproporcional à estrutura para gerá-lo. Não necessariamente uma startup é uma empresa de tecnologia, mas a tecnologia é usada como meio por elas”.

Ele explicou que a indústria da O&G é muito rica em recursos, mas a cadeia de players e fornecedores ainda é muito concentrada e os projetos de P&D são feitos no estilo closed innovation, o que limita a escala de aplicabilidade de soluções das startups. “As empresas atuam há muito tempo com sucesso e gerando muito caixa, mas não compartilham desafios comuns, problemas do setor. Se todos derem as mãos, publicarem pro Brasil inteiro o que o segmento está buscando, isso vai fomentar o mercado, e a demanda puxa a oferta”, disse, sugerindo que essa pode ser uma missão assumida pelo IBP, de fazer uma chamada ao mercado, de forma coordenada, tendo em vista sua representatividade e legitimidade no setor.

E Pripas foi além: “Isso não significa que vai ajudar a concorrência. Muito pelo contrário, vai aumentar o nível de competitividade da indústria como um todo, e em outro nível, o que eu acho extremamente positivo. O mundo está se transformando tão rápido que quem vai ter sucesso é aquele que orquestrar o que está acontecendo dentro e fora de casa”.

As métricas de valor que as startups devem exibir para ganhar mais opções de clientes foram o tema de uma pergunta de Victor Chaves, da RIO Analytics, que destacou a evolução do ambiente brasileiro de startups nos últimos dois anos. “Existem diferenças de uma hardtech para uma fintech ou edutech”?

O investidor da Redpoint eVentures explicou que a valuation será decorrente de toda uma jornada, bom trabalho, timing de mercado, clientes satisfeitos. “A meta não é valer US$ 1 bilhão, ser unicórnio, isso é só uma métrica de mercado. O empreendedor busca desafiar o status quo. Voltando para a discussão anterior, a gente tem que falar da transformação dessa indústria, trazer inovação de fora e plugar com a que está acontecendo dentro”.

Thaise Temoteo abordou a seleção do Rio de Janeiro, pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), como pólo de desenvolvimento de empreendedorismo digital, voltado para sustentabilidade e energia, e os desafios trazidos por isso. Segundo Flávio, para que a iniciativa dê certo, é preciso conciliar com a vocação daquela localidade, a partir da demanda e não da oferta. “Toda a indústria de O&G vai ter que levantar demandas comuns, para que o mercado saiba que existe essa necessidade, e aí vai existir oferta”.

Melissa Fernandez mencionou a figura dos “innovation killers”, áreas ou pessoas nas empresas que impedem essa evolução por uma série de questões. Mas para ela, a pandemia transformou a jornada de transformação digital numa verdadeira corrida. Em resposta, o convidado provocou: “Toda empresa tem seu ‘departamento de prevenção à inovação’. Mas este é um ano de inflexão para a humanidade, fomos forçados a quebrar várias verdades absolutas, e precisamos aproveitar que as pessoas estão com a cabeça mais aberta para testar novas formas de trabalho, de comunicação, de relacionamento. Transformação digital é a desculpa que todas as empresas estão usando para repensar processos, pessoas, metodologias, tecnologias. Então, no fim é a mudança da nossa cabeça”.

Numa “receita de bolo” sobre como as melhores práticas das startups podem ser promovidas no setor de O&G, Flavio Pripas listou três fatores: fazer planos em etapas mais curtas e sucessivas, com menos formalismo em budget e resultados atrelados a metas; aprovar e remunerar as chamadas POCs (proof of concept, em inglês) no início da parceria; e incorporar o projeto da startup ao de uma consultoria que já esteja a serviço da empresa, um hack para evitar problemas no acerto de contas.

Patrícia Grabowsky, da Subsea7, tratou a mudança do padrão corporativo de gestão de risco como outro caminho de promoção da inovação, citando como exemplo positivo a Embraer. “Se a pessoa errou, é porque estava tentando melhorar. Quando você promove essa cultura e recompensa os funcionários, é uma receita que se vai implantando aos poucos”. Victor Chaves completou: “E esse mindset atrai talentos, gira a roda e é super relevante. Aversão ao risco sufoca”.

E Flavio Pripas resumiu o ponto em sua explanação: “A gente tem que dar liberdade para as pessoas fazerem e errarem. É assim que se criam histórias de sucesso e se influencia no segmento, no mercado. Mesmo numa indústria tradicional, existem áreas onde se consegue fazer projetos e iniciativas, controlando o risco em cada uma das etapas. E não necessariamente sabendo onde se vai chegar, mas com uma visão de transformação de longo prazo”. E finalizou “Sempre digo que inovação, sem chegar na mão do cliente final, faturar, gerar nota fiscal, é ficção. Mas tem um processo para isso acontecer também”.

Confira a íntegra da segunda edição da RodaTech: “Startups Unicórnio: Qual será a primeira do setor de O&G?”.