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O engenheiro Eberaldo de Almeida Neto, que por mais de30 anos se dedicou à indústria de óleo e gás, principalmente em cargos de liderança na Petrobras, assumiu o cargo de presidente do IBP em maio deste ano. Com o desafio de fortalecer o papel do instituto em meio a abertura dos mercados de refino e gás natural e do cenário global provocado pela pandemia, o executivo detalha o trabalho que vem sendo realizado para fortalecimento da agenda do IBP, que comemorou 64 anos no dia 21 de novembro, e do ambiente de negócios do setor.

Com o avanço da vacinação e perspectiva de retomada da economia, a indústria segue investindo em temas como transformação digital e transição energética, este último, assunto que tem sido destaque no setor.

Na semana do aniversário do IBP, confira, a seguir, a entrevista exclusiva de Eberaldo Neto sobre prioridades da indústria e as perspectivas do Instituto para o futuro:

  • Com o avanço da vacinação, o setor de O&G vem aos poucos retomando sua rotina. Quais são as perspectivas da indústria para esse momento pós-covid?

A indústria de O&G manteve sua produção mesmo com todas as dificuldades impostas pela pandemia, cumprindo as regras sanitárias e priorizando a saúde de seus colaboradores para que a sociedade não sofresse com a restrição de produtos como o gás, os combustíveis líquidos e produtos petroquímicos, por exemplo.

O suprimento regular dos produtos citados é básico para o funcionamento da cadeia logística, ou seja, a vida poderia ser ainda mais complicada se o setor de O&G não adotasse a posição solidária e responsável que adotou. Ciente da sua importância na regularidade do suprimento dos produtos derivados do setor de O&G, a indústria não poupou esforços para garantir o funcionamento da cadeia logística, como por exemplo o transporte de alimentos, e o fornecimento de energia.

Com a vacinação atingindo patamares mais elevados e a adoção de uma nova cultura sanitária, já é chegada a hora de retomarmos de forma organizada a volta aos escritórios, colocando no centro a preocupação com a saúde física e mental dos colaboradores, conforme temos feito no IBP. Infelizmente, ainda não dá para falarmos em momento pós-covid 19, pois ainda conviveremos com ela por mais algum tempo.

  • O setor de O&G tem expertise reconhecida em tecnologia e segue investindo em inovação para a transição energética. Qual a importância da tecnologia para o futuro da indústria no Brasil?

A tecnologia e a inovação são a base da sociedade mais evoluída e com maior bem-estar. As empresas de O&G têm elevado os investimentos em Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (P,D&I), seja internamente em seus centros de pesquisa ou externamente por meio de parcerias com empresas fornecedoras, com a academia e com incentivos à startups.

Mais da metade das tecnologias necessárias para emissão líquida zero em 2050 ainda não foi produzida. Isto dá a dimensão da importância do P,D&I no estabelecimento de uma transição energética rápida e efetiva. Neste contexto, o arcabouço tecnológico do setor é um ativo crítico não só para a descarbonização da cadeia produtiva do O&G, mas na gestação de outras rotas tecnológicas que contribuam para o resultado almejado. Apesar do Brasil ainda perder muitos talentos para países mais desenvolvidos, as pesquisas geradas pelo setor de O&G local conseguem gerar um quadro menos pessimista no que diz respeito à retenção de profissionais de alto nível.

  • Ao longo dos 64 anos de existência o IBP sempre buscou inovar, propor e debater soluções para o desenvolvimento da indústria brasileira de óleo e gás. Quais são as expectativas do IBP para o curto e médio prazo?

O IBP segue comprometido com a transição energética para uma economia de baixo carbono e ciente da importância do setor de O&G brasileiro nesse processo. Não há transição energética justa sem a presença dos combustíveis fósseis, pois uma possível escassez desses ativos de alta densidade energética e capilaridade teria como resultado o aumento vertiginoso dos preços, prejudicando a velocidade da transição energética, os países em desenvolvimento, e sobretudo as pessoas mais pobres. Ressalto ainda que a energia está longe de ser acessível a todos e que atividades vitais como saúde, educação, transporte, conforto do lar, dentre outras, necessitam da sua democratização.

De outro modo, o Brasil possui um alto percentual de renováveis na sua oferta interna de energia (OIE). São 48% contra 14% da média mundial, o que nos coloca em posição de destaque e abre possibilidades para utilização de múltiplas fontes, como os fósseis. Adicionalmente, o petróleo produzido aqui, com menor “pegada de carbono” e maior eficiência, pode desarticular a produção de fontes mais poluentes como o carvão ou óleos produzidos com menor eficiência. Esse cenário contribui para a redução na emissão de Gases de Efeito Estufa (GEE) e aumenta nossas expectativas, que são as melhores possíveis, desde seja mantido um ambiente de negócios amigável aos investimentos em O&G no país, algo que está na agenda de advocacy do IBP.

É natural que no resto do mundo, onde os fósseis são 75% das emissões de GEE, o setor seja tema polêmico das agendas, inclusive de instituições financeiras que estão deixando de financiá-lo, porém as emissões de fósseis no Brasil correspondem a 19% do total (44% das emissões vêm do uso da terra – desmatamentos e queimadas e 28% da Agropecuária) e muitas tecnologias e novos processos têm sido implementados pelo indústria  no sentido de reduzirmos as emissões, sem descartar a adoção de soluções baseadas na natureza (como projetos de reflorestamento) como medida complementar às que estão e serão implementadas na cadeia produtiva. Não quero dizer que não seja tema importante, mas que deve ser encarado como parte crucial da solução.

  • Qual mensagem você gostaria de deixar para os colaboradores e associados do IBP?

Nós, como colaboradores do IBP, temos a enorme responsabilidade e a honra de podermos contribuir para ampliar os investimentos na produção eficiente e tempestiva de nossas províncias petrolíferas, contribuindo para a monetização desses recursos em benefício da sociedade brasileira e auxiliando na longa jornada da transição energética eficiente e justa. É um período único na história e fazemos parte dele!