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Em evento no IBP, especialistas abordaram os principais tópicos para a competitividade dos projetos offshore no Brasil

No momento em que a indústria de petróleo e gás retoma o ritmo de suas atividades a partir dos leilões realizados anualmente desde 2017, o Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP), em parceria com a SPE Seção Brasil, reuniu especialistas de toda a cadeia do setor para debater os desafios e possíveis soluções que assegurem ou otimizem a competitividade do segmento offshore na atual conjuntura do país. Temas como a padronização e a digitalização foram destaque na 2ª edição do Seminário sobre Competitividade dos Projetos Offshore no Brasil, que aconteceu na última terça-feira (20/08), no Rio de Janeiro.

“Hoje, o Brasil desponta como um dos países mais promissores no setor de energia mundial, com especial vocação para o desenvolvimento de projetos offshore nas reservas do pré-sal. Diante das discussões globais em torno da economia de baixo carbono, é essencial que olhemos o nosso setor a partir de uma nova perspectiva. Competitividade é a palavra-chave nesse processo”, afirmou Milton Costa Filho, secretário-geral do IBP. “Competitividade se traduz em diversos itens, como por exemplo, estabilidade e simplificação de regras, um regime tributário mais simples, um calendário fixo de rodadas, no aperfeiçoamento do processo de licenciamento ambiental, no desenvolvimento de tecnologias e inovação e muito mais”, complementou.

Na palestra de abertura, o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, reforçou a importância da exploração e produção offshore para a estatal. “A Petrobras está se tornando uma companhia offshore. Estamos vendendo nossos ativos em terra e em águas rasas, o que está ajudando a criar uma nova indústria de petróleo no Brasil, uma indústria vibrante de pequenos e médios produtores”, disse. Castello Branco defendeu ainda mudanças na legislação do pré-sal para aumentar a eficiência dos projetos. “Temos que fazer com que o Brasil ingresse no caminho da prosperidade. E não vai ser com conteúdo local ou regime de partilha que vamos conseguir fazer isso. Isso pertence ao passado, que não nos foi favorável, e temos que romper com isso”, ressaltou.

Já André Araújo, presidente da Shell Brasil, pontuou que para falar de competitividade em águas profundas é preciso falar também em transição energética. “Não podemos esquecer que os projetos de águas profundas não estão isolados do sistema energético no mundo. Hoje, um dos desafios do segmento de águas profundas é continuar sendo competitivo para manter o papel de liderança nessa jornada. Na Shell, falamos muito de transição energética, mas sabemos que águas profundas é um caminho-chave para o nosso olhar de futuro”, comentou.

A complexidade e a representatividade do segmento offshore são traduzidas em números, como apresentou Francisco Francilmar, diretor de operações da PetroRio. De acordo com o executivo, atualmente no Brasil, 40% das unidades produtivas se localizam na Bacia de Campos, 18% na Bacia Potiguar e 16% em Sergipe-Alagoas. No que se refere às plataformas em operação no país, 56% são fixas, 30% FPSOs e 10% semissubmersível, sendo que 44% de todas as unidades têm menos de 15 anos, 15% com 15 a 20 anos e 41% com mais de 25 anos.

Para José Frey, vice-presidente de Exploração da Equinor, as oportunidades para criação de uma estrutura competitiva e previsível também se expressam em números. Segundo o executivo, na visão da Equinor, 23% do aumento mundial da oferta de petróleo em 2030 virá do Brasil e cerca de US$ 200 bilhões serão investidos no setor de upstream no país. “Também estimamos que 20 FPSOs serão contratados até 2024, e sete deles serão contratados por IOCs, o que é realmente notável, pois mostra que a abertura e a competitividade são realmente atrativos do Brasil”, sinalizou.

No que se refere a investimentos, Anderson Dutra, sócio-líder da área de Oil & Gas da KPMG no Brasil, acredita que, no Brasil, o setor de energia e de petróleo e gás atingirá o montante de US$ 490 bilhões até 2027, sendo US$ 470 bilhões investidos diretamente em O&G. De acordo com Dutra, outros países da América Central e do Sul também estão atentos à relevância dessa indústria. “O Equador planeja investimentos de US$ 1 bilhão em exploração e produção na Bacia do Oriente. Já, em Trinidade e Tobago, empresas de óleo e gás investem US$ 10 bilhões em E&P”, explicou.

Padronização
A padronização foi um dos principais temas abordados durante o Seminário sobre Competitividade dos Projetos Offshore no Brasil 2019 e apontado com um fator decisivo para a eficiência de projetos. De acordo com Neeraj Nandurdikar, diretor de E&P na Independent Project Analysis (IPA), a padronização é comportamento significativamente positivo para alcançar a competitividade.

“No Brasil, 55% dos projetos usam algum tipo de padronização. No restante da indústria, sem o Brasil, esse percentual se limita a 15%. Se você quer ser competitivo, a padronização é uma maneira de fazê-lo e o Brasil mostrou que é possível”, explicou. “Agora, sejamos honestos. Quando falamos sobre o Brasil, até recentemente, nos referíamos a basicamente uma empresa. Então, muito disso é impulsionado por uma companhia e os outros IOCs, que agora estão entrando agora no Brasil, devem realmente adotar a padronização”, finalizou.

Para Rudimar Lorenzatto, diretor executivo de Desenvolvimento da Produção & Tecnologia da Petrobras, a busca por competitividade e produtividade também passa pela padronização. “Na Petrobras, tivemos muito resultado com padronização submarina e de poços. Hoje, já se fala bastante em padronização de FPSOs. É uma oportunidade que temos que trabalhar em conjunto na indústria, senão cada operador ou cada fretador terá um modelo, e será que esse é melhor modelo de negócio?”, questionou.

Nessa mesma linha, Eduardo Chamusca, diretor da Abespetro, acredita que a padronização é o próximo passo em projetos de FPSO, reduzindo o cronograma padrão de construção em algo entre seis e 12 meses. “O Brasil possui megacampos com características semelhantes, e os campos e, consequentemente, os projetos de FPSOs estão ficando mais complexos. Além disso, já temos um histórico anterior de unidades replicadas. Os benefícios da padronização são incontáveis”, explicou.

Digitalização
O impacto da tecnologia nos negócios foi outro grande tópico apresentado pelos especialistas, reforçando a importância da digitalização na indústria de petróleo e gás. Segundo Carlos Tunes, executivo da IBM para o Watson IoT para América Latina, a Internet of Things (IoT) foi o campo que atraiu maior investimento no ano passado, sendo apontado por 95% dos executivos ouvidos pelo IBV 2018 C-suite study. Mobilidade (92%), nuvem (83), inteligência artificial e learning machine (57%) e automação de processos robóticos (39%) completam as cinco principais áreas de investimento tecnológico.

“Para se ter uma ideia de como o impacto potencial da tecnologia sobre o valor do negócio está crescendo, 30 bilhões de coisas conectadas existirão no mundo até 2020. Além disso, 75% dos carros do mundo serão conectados, 95% dos eletrônicos terão tecnologia IoT e 50% de todos os ativos diagnosticarão seus próprios problemas. Em 2025, os dispositivos conectados vão gerar exponencialmente mais dados do que todas as tradicionais plataformas móveis e de computação juntas”, declarou.

Para Marcelo Xavier, vice-presidente da Subsea 7, falar de competitividade e não falar de digitalização significa perder uma oportunidade de discutir potencial de valor. Xavier apresentou dados do relatório anual emitido pelo Fórum Econômico Mundial, em parceria com a Accenture, que indicam que a indústria de petróleo e gás tem o potencial de destravar valor na casa US$ 1 trilhão. “É importante observar que 90% desse montante está relacionado ao monitoramento e gerenciamento dos ciclos dos ativos. E para que o gerenciamento digital desses ativos, de fato, aconteça, vamos falar muito nos próximos anos de automatização, robotização, decisões baseadas em analytics e tudo relacionado às tecnologias vestíveis e em nuvem para gerenciamento dos sistemas de produção”, acrescentou.

Licenciamento ambiental
O diretor de licenciamento do Ibama, Jônatas Trindade, afirmou que o licenciamento ambiental é um local de oportunidades e que há muito espaço para melhorar e buscar a simplificação de procedimentos e processos. “Se o mercado muda, o processo de licenc00iamento ambiental tem que se adaptar e se aprimorar diante desse novo cenário”, explicou. Trindade citou como exemplo o Regulamento do Licenciamento Ambiental Federal (ReLAF)– onde a expectativa de publicação é até o final do ano – que traz novidades que incorporam entendimentos técnicos consolidados ao longo dos anos, resultando em uma maior segurança jurídica e uma linguagem de fácil entendimento.

Além do diretor de licenciamento do IBAMA, o evento contou com palestras de Claudio Makarovsky, diretor-presidente da Abespetro, Pedro Medeiros, diretor de pesquisa de energia no Citibank Research e Thiago Baraldi Ferreira, da Petrobras.

O Seminário sobre Competitividade dos Projetos Offshore no Brasil 2019 teve patrocínio da Petrobras, Shell e Halliburton, e parceria da ISA Rio de Janeiro.