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Mudanças ganham ritmo com novo governo nos EUA; petróleo ainda terá espaço até, ao menos, 2050.

Rio de Janeiro, 02 de dezembro – O caminho para a indústria de óleo e gás no mundo é o da transição energética, em um cenário com espaço para diversificação das fontes de energia e de avanço das renováveis, especialmente após a mudança de governo nos EUA, com a eleição do democrata Joe Biden. Nesse novo ambiente de transformação, porém, o consumo de petróleo e gás continuará presente no longo prazo.

Essas são algumas das conclusões dos debates da Rio Oil & Gas em seu segundo dia de evento, que tratou ainda de temas como E&P, downstream, biocombustíveis, gás natural, entre outros.

Na estreia do CEO Talks, o novo CEO global da Equinor, Anders Opedal, reforçou a meta da companhia de zerar as emissões líquidas de carbono até 2050. Até lá, disse, o mundo vai continuar demandando óleo e gás. Mas ressaltou: “Não podemos focar apenas na produção de óleo e gás, mas sim em produzir com a menor emissão de carbono possível”.

Daniel Yergin, vice-chairman da IHS Markit, disse que o crescimento das energias renováveis está alinhado com o compromisso de muitos países em alcançar metas de transição energética, estabelecidas no Acordo de Paris, com o avanço para uma matriz limpa. “Devemos avaliar a escala que será necessária, inclusive em relação à cadeia de valor e aos recursos disponíveis.”

Em sua análise, o mercado de petróleo e gás terá uma retomada a partir do segundo semestre de 2021, especialmente após a descoberta de uma vacina para a Covid-19. A China, diz, se posiciona como líder em demanda global por óleo. O Brasil, segundo ele, é um “grande laboratório [da produção] offshore”, mas precisa de “clareza regulatória e transparência” para manter o crescimento da produção, dentro da convergência com as demandas da agenda ESG.

Para Yergin, Joe Biden terá papel fundamental no fomento de políticas públicas para combate às mudanças climáticas. O governo norte-americano, avalia, deverá mostrar planejamento em curto prazo, especialmente porque a China pretende mitigar emissões líquidas até 2060.

Para outro convidado internacional desta edição, Jason Bordoff, diretor e fundador da School of International and Public Affairs da Universidade de Columbia, Biden promoverá o debate sobre o uso mais amplo do hidrogênio, de tecnologias CCUS e do fomento à mobilidade urbana elétrica.

No Brasil, o exemplo veio de Rafaela Guedes, economista-chefe da Petrobras, que indicou que a companhia tem metas ambiciosas para redução de emissões líquidas até 2030, mas observou que o cenário do setor ainda é incerto. “Será uma recuperação gradual, mas vemos uma competição maior em renováveis e que a transição se acelerou.”

OUTROS DESTAQUES DA AGENDA

Gás Natural e transporte

Lazslo Varro, economista-chefe da IEA, destacou a importância da expansão do mercado de gás natural e sua integração com o setor de energia elétrica, em um momento de transição energética, ressaltando a importância da abertura do mercado brasileiro. “O gás é uma reserva para as demais fontes de energia, uma bateria para o setor”, disse Varro, durante a sessão “A Abertura do setor de gás natural no Brasil”.

Michael Stoppard, estrategista-chefe global de gás da IHS Markit, destacou que é “importante garantir uma boa relação risco-retorno para atrair investimentos para o setor.”

A transição energética passa também por mudanças na matriz de transporte, com o aumento da participação de biocombustíveis, segundo Marcelo Araújo, CEO da Ipiranga, segundo participante do dia no CEO Talks. “Vivemos um processo de processo de transição no qual o Brasil tem destaque. Temos também uma matriz automotiva limpa, por meio de um grande ativo que são os biocombustíveis. É nosso papel ser protagonista nessa transição, com transparência e estimulando outras empresas”, disse.

Para Rafael Grisolia, CEO da BR Distribuidora, a abertura do setor é uma oportunidade de aumentar a competição, mas isso demanda coordenação dos múltiplos atores envolvidos para superar os desafios. “O Brasil tem um grande potencial para produção de biocombustíveis, mas são necessárias políticas para o setor manter a segurança energética e o desenvolvimento social e econômico, atendendo aos requisitos de sustentabilidade”, ressaltou Heloisa Borges Esteves, diretora de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis da EPE.

Revitalização da Bacia de Campos

Os investimentos em novos poços na Bacia de Campos recuaram e a região vive um declínio de produção, mas essa realidade começa a mudar com empresas focadas na revitalização de campos maduros. “São reservas ainda muito significativas, com grande potencial já descoberto”, destacou José Formigli, CEO da Forsea Engenharia.

Desde 2014, a PetroRio investe em aquisições e revitalização de campos maduros. É o que está em curso com o campo de Tubarão Martelo – que será integrado ao de Polvo – e o de Wahoo – este a ser interligado a Frade. “Buscamos o compartilhamento de toda a infraestrutura e demais sinergias a fim de reduzir custos e ampliar a vida útil dos ativos”, destacou Francisco Francilmar, COO da PetroRio.

Também trilha o mesmo caminho a Trident Energy. Fabrício Zaluski, diretor jurídico da empresa, ressaltou a importância de mudanças regulatórias promovidas pela ANP que facilitaram novos investimentos em campos maduros, como a redução de royalties para a produção incremental e a renovação dos contratos de concessão. Os três integraram a sessão “Investir para revitalizar: A ação de novos atores na Bacia de Campos”.

Já para as gigantes do setor, resiliência operacional, controle de Capex e Opex e regulação mais fluida são fundamentais neste momento. “O pré-sal já tem poços espetaculares. Se a regulação local for mais fluida, atraindo mais investimentos e desenvolvendo o setor, temos o cenário ideal”, disse Artur Nunes da Silva, VP de E&P Deepwater da Total, presente no painel “Grandes projetos offshore – Desenvolvimento, inovações e oportunidades”.

A Rio Oil & Gas 2020 é patrocinada pela Petrobras, Equinor, Shell, BR Distribuidora, Ipiranga, bp, Chevron, ExxonMobil, Raízen, Total, Petrogal, Repsol Sinopec Brasil, Siemens Energy, Braskem, Enauta, PetroRio, Salesforce, Dow, Oracle, Solvay, TBG, Techint, United Airlines, Vallourec e Wintershall DEA.